16 novembro 2007

ONDE TUDO COMEÇA



















A perfect day

não fui eu
sou demasiado pequeno
os anjos não se moldam
nas mãos de gente torcida
chama-me pai
porque te quero filha
não porque te fiz
não fui eu
roguei-Lhe a semente dos corpos
anseio-te digna
sou aquele que não consegues ver
perdido entre incomensuráveis
grânulos fulvos à porta do mar
olha bem
não me descobres de tão igual
sou apenas incapaz
a polpa do teu sorriso não fui eu
com rigor sei nada do local onde estamos
desconheço como cavar os remos
assim que a maré turva te ondular os sonhos
ignoro o que fazer quando não estiveres
estatelo-me na calçada a cada lágrima tua
fui eu
fui eu que te quis
sou eu a querer-te
aqui ajoelhado nas tuas pálpebras
à espera dos teus olhos
implorando ser o piano dos teus dedos
suplicando ser a paz que te ata a alma
o despertador do teu acordar
sou eu que te digo
diante de todas estas armas
não sejas indiferente à guerra
não te encolhas a um abraço
não fujas da ternura
não te deites com o egoísmo
não fui eu que te fiz
caíste-me no regaço
no fim do café
a meio do jornal
nada tenho para te ensinar
frio facto
ignoro o antídoto para tudo
o que hás-de chorar
restam-me
esta mão que te dou
e a vida que te dedico
.
Hugo Cadete